Era uma vez um castelo encantado, lá para os lados da Serra, onde a neve costumava ser abundante. Nesse castelo viviam uns velhos ricos rodeados por animais de estimação.
Quando o natal chegava os velhos que eram muito velhos, acendiam uma fogueira, comiam o bacalhau, numa ilusão vã de acompanhar o povo. Mas o ritual era frio, repetitivo, cansativo e acabou por perder o significado. De forma que no Natal nevava sempre fora e dentro do castelo.
Mas o milagre aconteceu: certo Natal, os animais revoltados pelo frio, resolveram organizar eles o Natal: correram à procura de pinheiros verdadeiros, decorações verdadeiras, comida verdadeira. E organizaram uma festa. Esse Natal seria diferente.
Na cave, estenderam uma tábua e sobre a tábua uma toalha de linho. Vieram os arranjos de Natal e as velas. A comida dispôs-se abundante na toalha. Mas… faltava qualquer coisa. Os velhos! Tinham que os chamar: o gato e o cão subiram ao andar de cima e miaram e ladraram tanto que os velhos se levantaram e os seguiram. E…deslumbramento: por todo o lado, luz, cor, brilho, festa. Os velhos sorriram e sentandos na poltrona cantaram canções de Natal muito antigas, ensinaram à bicharada o sentido do Natal no antigamente, quando os tempos eram duros e era o calor dos homens que iluminava os dias de consoada, no mais humilde dos casebres.
E foi assim que o carinho e a alegria voltaram ao pequeno castelo.
O tempo flui devagar, lentamente, em pequenas gotas. Não há tempo para nada nesta multiplicidade de tarefas que se impõem. Ao mesmo tempo, as gotas soam lentas, um gotejar constante de pequenos silêncios. O cansaço vem então insinuar-se e instala-se definitivamente. Foi um arranque poderoso, intenso, devastador. O tempo para ouvir crescer as plantas do jardim comprimiu-se, dobrou-se sobre si, enregelou.
A respiração, a descompressão, impõe-se agora. Avaliar, observar, reter. Descansar.