Depois de uma imensa corrida em que os obstáculos foram vencidos eis que chegamos ao topo e desfalecemos. Foi um inverno duro, cheio de neve, vento, água. O sol encantou-nos nestes dias mas estamos já sem forças para a meta. Do alto da colina, vejo o fim. Porém. As forças faltam, não há riso, estimulo, força. Foi uma corrida longa, sim. Duríssima. E agora abdico.
Ou talvez seja só o cansaço nesta segunda etapa. Às vezes, quando pensamos morrer, ganhamos umas asas novas e voamos. Às vezes o milagre ocorre. Vou deitar-me à espera de um milagre.
No momento certo, após um certo cansaço, quando o corpo se retesa em concentrações múltiplas, saímos à rua e fumamos um cigarro. O ritual é leve: procuramos o cigarro, abrimos fogo e sugamos o prazer. Sentamo-nos debaixo do limoeiro, saudando a sua sombra, sentamo-nos na escada, dobrados sobre nós, próximos da posição fetal que nos acaricia. E então olhamos à nossa volta e descobrimos os nossos companheiros, partilhando secretamente o prazer da descontracção, de sorriso leve, de verbo afável. Por vezes as gargalhas irrompem em plena luz cinzenta, outras vezes procuramos mais fundo cruzando vidas e sonhos. Umas vezes a preocupação, um laivo de tristeza, outras vezes, uma ironia funda de quem está pela partilha. Frequentemente, o sorriso.
A Tempestade espreita por detrás da serra. Longe, longe.