No longo caminho percorrido os passos trôpegos prosseguem. A mente desligada segue adiante, sem horizonte. Surgem então os ordeiros que indicam a direcção e os passos juntam-se a outros passos num crescendo de ruído. Caminhando juntos impressionam e começam a fazer tremer o pó da calçada. Um nuvem eleva-se e a transpiração evola-se e mistura-se com outra transpiração. O corpo colectivo segue agora em direcção ao limite. Desligados da mente, porém.
Não fui ver o mar. Não me acalmei. Mas a noite entrou em mim e senti o cheiro da maresia que me entrava nos sonhos. Sonhos profundos, escuros, relaxados, cheios de memórias. Houve poucos sorrisos mas os suficientes para saber que estás bem, que continuas atento, como sempre te conheci.
O rumor ao longe e a vida que passa leve ao lado. Um rumor feito de rotinas e quietude. Um rumor feito de aconchegos, um rumor cheio de esperanças num futuro que se desenha no chão.
Agora a noite tomba e tudo está bem. A serra continua imutável, alta, poderosa, envolvente. A minha casa.
Quando ocorre um reforço do controlo externo o interior esvazia-se de sentido. Criam-se conflitos. Resiste-se.
Era uma vez um casal que vivia vigiado pela sogra. E tanta era a vigilância que o casal se esqueceu de desenvolver uma vida própria e se esqueceu de construir um lar. Amedrontados pela vigilância passam a viver em função das aparências. Harmonioso, sorridente, com vidas profissionais brilhantes, mesa farta.
Na hora de deitar instalava-se o silêncio. Que dizer em privado se a sua vida é voltada para fora? Desaparenderam de conversar, rir, esqueceram a ternura e o amor. Pensavam em função do olho. Viviam em função do olho. Fora do olho o vazio.
Um dia a sogra morreu e o casal separou-se. Sem dor.