Tacteando Centros de Ciência Viva, que os há espalhados por esse país fora, vejo centros mobilizadores de divulgação e formação cientifica. Em Constança, em Estremoz, em Proença a Nova, por todo a lado eclodem estes cogumelos aglutinadores e dinamizadores de ciência. Será que a Escola se demite de formação prática e remete para estes centros essa componente ou será que pelo contrário incentiva essa mesma prática? Eu creio que é no trabalho rotineiro dentro da sala de aula que se fomenta a prática cientifica e se estimula a curiosidade. É no trabalho rotineiro que o espírito é instruído, é no exemplo e no envolvimento diário que nascem as sementes . Porém, estes centros permitem plantar a semente e permitem adicionar-lhe novos nutrientes que a fortalecerão. A imbricação entre o interior e o exterior poderá ser o caminho certo para a melhoria da cultura cientifica da população. Penso eu que sou cega e caminho tacteando.
Há tanta coisa que ignoro e não vejo. E quando isso ocorre só posso tactear. Esta série é sobre coisas que vou experienciando através do tacto.
Os museus de ciências naturais (conheço vários mas melhor os de Coimbra) são actualmente monolíticos e pesados, com estruturas pesadas, com funcionários mal-humorados que só funcionam quando albergam alguma exposição. Curiosamente alguns tentam reagir e o caso mais evidente é o Laboratório Chimico de Coimbra que oferece actividades várias aos jovens estudantes. Mas apesar dessas actividades as estruturas mantém-se pesadas e as brincadeiras depois de usadas passam de moda e é necessário arranjar mais e melhor. Funcionam em ritmos de modas. Mas então este destino é imutável? O que falha se é que falha alguma coisa.?
Talvez estes espaços pudessem ensinar a ver o passado, talvez estes espaços pudessem organizar os seus espólios de forma a contar histórias, histórias verdadeiras, histórias da ciência.
O povo português tem a resposta para a falta de variedade: vejam o caso da gastronomia alentejana, tão pobre e tão rica. É tudo uma questão de imaginação e quem trabalha em museus deve recorrer aos contadores de histórias para valorizar o seu património e ensinar a todos o que é o real, como se constrói o real.
Mas isto sou eu a tactear porque, de facto, sou cega.
Hoje é dia da criança e a minorca pede-me que escreva sobre esse dia. Hum…infância, claro. No Antigo Regime a infância terminava ao sete anos de idade quando os miúdos ingressavam na oficina para começar a aprender através do trabalho um ofício. Hoje, em paralelo, existe a escola. Hoje com sete anos as crianças começam a aprender a desenhar letras e a contar. A aprendizagem do símbolo inicia-se no tempo em que a criança começa a dar os primeiros passos no mundo, em que a criança se começa a libertar do mundo mágico e encantado dos contos de fada e descobre que o ar é uma mistura de gases e a montanha é apenas rocha. Dessacraliza-se o mundo e instilam-se novas sacramentos. Substitui-se o pai natal pelo dinheiro que custa a ganhar. O que ninguém diz é que a libertação e emancipação da criança pode durar décadas. É que o mundo de faz de conta, hoje em dia, apesar da roupagem racional, se prolonga no tempo.