Quem vem à Serra da Estrela só vê pedras e aprecia o lado estético da paisagem. Talvez alguma criança se lembre do que aprendeu sobre caos de blocos e veja mais alguma coisa…porém, quantas vezes se olha a paisagem e na pobreza do olhar se fique cego.
A Nave de Santo António, por exemplo, faz parte de uma região mais vasta relativa a vestígios de última glaciação( 20 mil anos). O que se vê aqui são moreias, depósitos glaciares, numa língua que se extinguiu no local. Lá mais atrás na esquerda, vê-se o famoso Poio do Judeu, um bloco errático arrastado pela força do glaciar. Circos glaciares, covões, logoas e vales de glaciar são restos, vestígios que ficaram e marcaram a nossa história geológica. Tudo isso pode ser apreendido numa visita não turística à serra. Sem descurar a estética e o refresco… esta foto foi tirada num dia de Verão!
Resistem as torres de granito, os castelos e as muralhas ao vento, ás intempéries, ao tempo, à passagem do tempo, ao desleixo dos homens, ao esquecimento, ao abandono.
Mas não resiste a cidade muralhada, pequena e claustrofóbica que definitivamente se torna aldeia pequena e fechada.
Há neste países muitos exemplos destes, de cidades abortadas, com destino traçado mais além que se vê asfixiar pelo andar dos anos.
Sortelha é um desses exemplos, um destino de granito que sofreu a erosão dos tempos.
Dizem, de pessoas, que também as há assim.
Não tenho pena nem me ufano destes destinos. A visão dos homens traça o seu destino e quando o nevoeiro é frequente o horizonte diminui no campo de visão. Nas serras do interior a névoa é baixa já que a cota é alta. Talvez tudo se resuma à latitude e à rarefacção do ar.