O guarda–rios é um pássaro que assentou arraiais no meu imaginário faz agora quase vinte anos. Um livrito cheio da passarada mais comum em Portugal e que eu tive de decorar. Já não me lembro dos pormenores apenas sei que as cores tiveram de ser pintadas porque o livro era a preto e branco e a cor é essencial para a decifração da espécie.
Hoje fixo as cores do guarda-rios e penso nas linhas de água que povoam a minha aldeia. Somos guarda-rios sempre à beira da água, sôfregos, ansiosos pela saturação da bacia hidrográfica, preocupados com a seca. A água abençoa-nos, a água dá-nos esperança, a água securiza-nos. E nós, olhamo-la, nós, guardamo-la.
Auto-retrato
Este que vês, de cores desprovido,
o meu retrato sem primores é
e dos falsos temores já despido
em sua luz oculta põe a fé.
Do oculto sentido dolorido,
este que vês, lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido,
o estrago oculto pela mão da fé.
Oculto nele e nele convertido
do tempo ido excusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;
E do meu sonho transformado em acto,
do engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.
Ana Hatherly
A Idade da Escrita, Lisboa, Edições Tema, 1998
Introdução
De que se trata? Esta temática, em primeiro lugar, remete à área de Filosofia, Ética e Ética Aplicada, também à Bioética e a uma Filosofia práxica, contendo várias interfaces. Não seriam estas áreas de maior relevância na Filosofia de hoje (o ponto de saída do seu narcisismo), considerando-se a sua relação com os outros saberes, a situação e as exigências do mundo actual?
ML Pelizzoli, Correntes de Ética Ambiental
Não mais é possível tratar das questões ambientais sem avaliar a dimensão ética e sociológica do processo. A ciência serve a humanidade, é feita por homens (com determinado background), depende de valores éticos. A ciência como detentora de poder absoluto transforma-se numa religião e renega o seu espírito livre e crítico, a sua bandeira de amoral, a sua independência. A ciência vive da discussão tanto quanto vive da razão. È nesse sentido que deve olhar a sociedade procurando compreender e esclarecer o obscurantismo, mostrando o poder do raciocínio critico e sobretudo procurando instruir o cidadão. A ciência não mais se pode alhear do seu dever de formar.
Ontem, enquanto vadiava pela net, alguém colocou um saco de castanhas na maçaneta da porta. Recolhi-as e sorri. Depois apareceu a tia a justificar que eram pequenas mas gostosas.
Hoje, no quintal que avisto daqui, assam-se castanhas. Com um pouco de caruma, as castanhas estalam no ar.
Há um cheiro adocicado no ar e muita conversa solta pelos campos.
Talvez ainda venha a gostar do Outono. Talvez o castanho e dourado da folha ainda me seduza. Para já, sei que os dez castanheiros que plantei lá longe, acabaram por secar.
Intuitivamente vamos dando passos apesar da exaustão nos tolher os movimentos. Uma passo após outro, sem requisitar consciência, sem requisitar sentido. O movimento automático da respiração segue ininterrupto e percebemos que o coração continua a bater. Sangue, ar, alimento. As células continuam a produzir ATP e a energia sai em golfadas, em calor,
O sol, esse nasce todos os dias e há quem saiba que à sua volta orbitam oito planetas principais e alguns anões. Os cometas, esses, produzem chuvas de estrelas. Sem espanto nem emoção olhamos o céu nocturno e descobrimos previsibilidade e luz.
Depois vamos dormir porque na manhã seguinte o sol voltará a erguer-se.