Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
---------------
Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.
(António Machado)
Eu sei que é muito conhecido mas é um dos meus preferidos.
Hoje partilho-o.
Luz e transparência
Vem, serenidade,
e absolve os vencidos,
regulariza o trânsito cardíaco dos sonhos
e dá-lhes nomes novos,
novos ventos, novos portos, novos pulsos.
[...]
Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.
E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exata
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.
E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome.
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros
na chaminé do sangue.
Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retráteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.
Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.
[...]
Raúl de Carvalho (fragmento)
O que resta para dizer em dias felizes? A felicidade preenche todos os poros, entretém-se na entrelinhas, codifica sorrisos e caricias. Onde as tragédias e as comédias? Onde os grandes rasgos de génio? Resta-nos um sorriso estampado na face e o corpo aberto ao sol.
"Um pulmão de sangue"- por mais voltas que dê a esta frase não lhe descubro o sentido: nem directo nem figurativo. Não se respira sangue, não se pode respirar sangue. O sangue transporta gases que "alimentam" as células. O ar é adquirido pelos pulmões. Mas que coisa é essa de ter um pulmão de sangue? Ah! Claro que há sangue nos pulmões, claro que os pulmões são irrigados. Claro que há uma imbricação forte entre ar e sangue. Mas que coisa é essa de "pulmão de sangue"?- rodo, rodo e desando.