Terça-feira, 31 de Janeiro de 2006
Estórias sobre o céu estrelado 8

«Podemos ser amigos?», interrogou a pomba, perscrutando as intenções do gavião. «Nunca tinha visto uma ave tão forte como tu», acrescentou. «Os céus são os meus domínios e as minhas garras são armas temidas», respondeu o gavião, e os seus olhos faiscaram de vaidade e cobiça. «Que há para além deste desfiladeiro?», questionou a pomba que não deixava de surpreender o gavião com a sua inocência ou ignorância. «Não deves conseguir atravessar este desfiladeiro», ripostou o gavião apressando-se a acrescentar com malícia: «Os ventos são muito fortes neste desfiladeiro e é breve o voo que separa a vida da morte». Mas a pomba não comprendia os avisos sarcásticos do gavião e voltou a insistir, convicta de que o gavião lhe revelaria algum segredo do mundo: «Que há para além deste desfiladeiro?».


(n)

publicado por maria anjos castanheira calado às 18:48
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Segunda-feira, 30 de Janeiro de 2006
Estórias sob o céu estrelado 7

(novo conto escrito a duas mãos)


Era uma vez um pomba que vivia num pombal. Todo o dia começava o dia a cantar, arrulhando alegremente, na sua casinha. Um dia, em que a porta se abriu resolveu ir conhecer mundo.Voou, voou até que se encontrou sózinha num meio de um desfiladeiro. Olhou em volta e não descobriu ninguém. Começou a tremer de frio e de medo e procurou uma reentrância na falésia. Nisto, viu uma outra ave que a espiava no fundo da saliência.
«Quem és tu?» perguntou
«Sou um gavião. Que fazes aqui?»
E a pomba contou-lhe da aventura. Os olhos do gavião brilharam.

publicado por maria anjos castanheira calado às 22:41
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Domingo, 29 de Janeiro de 2006
O som da clareira 15

A chave de palavras deste blogue para o Insónia.


olhar, tactear,ouvir,estória, silêncio.


(não, hoje não nevou por aqui! mas a vingança será terrivel...)


 

publicado por maria anjos castanheira calado às 22:16
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Sábado, 28 de Janeiro de 2006
o som da clareira 14

«Poema de amor, saudade física, procura, entrega, tristeza de não se ser infinito em cada instante.
E é já uma razão de perda quando se escreve. Talvez o amor seja isso, um momento para sempre à deriva nos nossos braços. Dizê-lo é já distância. Senti-lo é quase insuportável porque nos exige mais que a vida, mais que morrer simplesmente. Mas sempre um olhar denuncia o amor que os poetas procuram em verso, o que nos torna irrepreensivelmente mortais: amor é o sem-palavras, e foi com palavras que Jorge de Sena o disse.

Não sei que poeta define melhor o amor. Se Botto, se Florbela, se Neruda... »


(n)


A propósito de um poema de Botto publicado no Modus Vivendi.

publicado por maria anjos castanheira calado às 16:29
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Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2006
O som da Clareira 13

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
[...]
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
[...]
Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso é inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranqüilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe
[...]


Álvaro de Campos


Errata: onde se lê "noite" leia-se "MORTE"

publicado por maria anjos castanheira calado às 18:46
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