SUBITAMENTE SURGE. TEM O TEU ROSTO
O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparencia da lampada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das janelas,
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chavenas meias de café.
É tarde e és tu,
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.
Nuno Júdice
(Agora vou)
A menina construía barcos de papel. O menino quis trazer-lhe o mar.
O menino começou a escavar o chão, sempre em direcção ao mar e tão longe chegou que a menina o perdeu de vista.
Se isto for uma história para crianças, basta a menina chamá-lo e mudarem de brincadeira.
Finalmente decidi-me a comprar O Zorro de Allende. Ainda não o li mas a personagem fascina, tem fascinado gerações. A vida dupla, a mascarilha que nada esconde, a defesa dos inocentes, o amor por acontecer, sempre adiado.
Até onde vai o nosso desejo de voar, salvar a humanidade, lutar pelos inocentes? Porque razão não somos felizes olhando os nossos ossos, as nossas cinzas? Não as pequenas coisas não nos bastam. A nossa meta está sempre nas estrelas.
O Universo fascina. Estrelas, quasars, buracos negros, galáxias, estrelas, matéria escura,.. mas é imensamente distante, imensamente frio. Às vezes, pela dimensão do fenómeno ou pela forma como o captamos parece-nos que as estrelas estão á beira de nós e nos sorriem. Pura ilusão: unidades astronómicas, anos-luz, milhões e milhões de quilómetros de distância. Lentamente arrefeço, fecho o meu sorriso.
Em círculo, ouvi
A conversa desfiada, oca,
Com sons caninos
Em algumas pausas-
Perseguem-te com desdém, e tu,
Com sentidos prévios na garganta,
Um trejeito na boca,
Atravessas a nada o rio desse destino.
O grito de uma flor
Anseia por uma existência.
Paul Celan, A morte é uma flor