AS PALAVRAS E O DESEJO
Por vezes perdem a sombra
E rodam pálidas sem a seiva do vento.
Raramente vêm carregadas de frutos, de pedras e de flores
Ou apenas do seu silêncio de fogo.
Quando as línguas indolentes nos envolvem
Na espuma das suas sílabas
É que nos olhos do mundo nos olham através das imagens
E o enigma se aproxima silencioso e cúmplice
Do nosso abandono deslumbrado
No volume côncavo do tempo.
Mas por vezes as palavras já não reflectem qualquer luz
E descem por escadas negras
Até ás primeiras águas e ás redondas sombras
Em que o silêncio é o puro silêncio sem imagens.
ar.rosa
As palavras estão trancadas atrás de açudes de água escura e lodosa. Escondem-se em recantos sombrios. Escondem-se entre as ervas aquáticas. Espreitam no meio das silvas. O verde, a água, o canto, a ameça. Tritões e rãs deslizam pelo fundo lodoso. A luz reflecte-se na superfície aparentemente tranquila.A lama esconde o perigo, agarra-nos em falso fundo. Perigo.
oya mo kô mirareshi yama ya fuyugomori
Meu pai também
Viu estas montanhas —
Reclusão de inverno.
Issa
Mais haicais Caqui !
Os Amantes
Olha como um para o outro crescem:
Espírito que se faz tudo em suas veias.
As suas formas tremem como eixos
A cuja volta há um girar quente e arrebatado.
Sequiosos, logo encontram que beber.
Despertos - olha: logo têm que ver.
Deixai que se afundem um no outro,
Para um no outro se vencer.
Rilke