Escrever é uma forma de respirar. Quem tem uma mente imaginativa tem tendência a construir histórias e efabulações sobre a realidade. Desenhar em pensamento o passado, sentir o presente e inventar o futuro. Chega depois um momento em que a vida neural precisa ser racionalizada, compreendida para que dela nos possamos apropriar. É um exercício curioso: construímos mentalmente, expiramos sobre uma folha de papel e depois apropriamo-nos de nós próprios, das nossas ideias e construções mentais. Com isso criamos a ilusão de auto-domínio e de domínio sobre a realidade. Ou, simplesmente, criamos o nosso mundo, relativizamos outras interpretações e definimos a nossa identidade. Este movimento umbiguista talvez seja a melhor forma de lutar contra a relatividade das opiniões que nos chegam de todo o lado e tendem a formatar-nos o pensamento de forma acrítica. Talvez os crivos mentais que precisamos para viver em sociedade não sejam mais que este movimento respiratório: inspiração, expiração, inspiração,… talvez viver com consciência de nós seja afinal um movimento tão simples como este.